sábado, janeiro 14, 2006

Eu, Senhor de todas as coisas...

Tens tempo para gritar pelos teus direitos?
Como podes tu , os Senhores do Mundo, julgar?
Sabes quais são os nossos preconceitos?
Ainda tens tempo para elevar o teu pensar?

Se tens tempo para idealizar.

É porque, pouco trabalho de tenho dado.

Se tens tempo para protestar.

É porque, não estás suficientemente enfadado.


Por isso, ouve o que eu te digo.

Não esperes sentimento ameno.

Para que eu não diga, “o dito por não dito”.

Ouve bem isto, que te ordeno.


Toca a partir, toca a trabalhar.

Não vás tu pensar, desordeiro, que nos escapas.

Tens muitos Senhores para sustentar.

E a ganância coberta pelas suas douradas capas.


Não duvides de mim, pois sou o teu Senhor.

Duvida de ti, questiona a tua vontade.

Trabalha, para não transpirares o áspero terror.

E para a tua fome, não deixar saudade.


Será que és boa rês?

Não te queixes que não estás fino.

Então porque não vês?

Que ser escravo é o teu destino?


Um estômago cheio, já é para ti, um bom feito.

Isso basta para a tua felicidade.

Pois eu não quero que saibas de qualquer jeito.

O que é a Democraticidade.


Ainda tens tempo para me questionar?

Só se tiveres a tal doença que perdura.

Porque não estás para lá, a trabalhar?

Visto isto, a tua doença só pode ser a loucura.


Pois mais uma vez, ouve o que eu te digo.

Não esperes sentimento ameno.

Mas, para que eu não diga, “o dito por não dito”.

Ouve bem isto, que te ordeno.


Toca a moer, toca a esforçar.

Não peças muito, não te quero dar a Liberdade.

Estou aqui, para te escravizar.

Pois tens de contribuir para a minha rica “herdade”.


Não protestes, não irás nunca entender.

Não vale de nada cantares o meu Hino.

Ainda não consegues compreender?

Que ser escravo é o teu destino?


Não podes, uma boa mesada, juntar.

Pois os teus filhos não têm direito à tua herança.

Pois também eles vou escravizar.

Não percas muito tempo, suspirando esperança.


Sabes o que vais deixar, qual vai ser a tua herança?

És um ser louco, ainda não conseguiste entender?

Julgas tu, que para os teus, vai ser a segurança?

Pois não penses muito, não vás em vão, prometer.


O trabalho é teu.

A ordem é minha, não é para contestar.

O teu corpo é meu.

És o meu escravo e assim vais acabar.


Não penses em revolução, para a tua mente suavizar.

Pois nada mudou com a tal “revolução do cravo.”

O meu destino é viver o belo e para o povo escravizar.

E o teu destino é, dolorosamente, ser escravo.

1 comentário:

A Sentinela disse...

Ai o nosso Gil Vicente e as suas Cantigas de Maldizer...

A leitura torna-se mais interesante. Com algumas alterações em certos versos, até podia-mos cantá-las.

E muito obrigado pelo comentário.